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Marilyn Monroe e Ralph Greenson: o desfecho do uso inadequado da transferência e contratransferência no processo analítico

Atualizado: 10 de out. de 2024


Artigo apresentada em cumprimento às exigências do Curso de Formação em Psicanálise

do Núcleo Brasileiro de Pesquisas Psicanalíticas – NPP Observação: o formato apresentado aqui não segue as normas da ABNT, pois não há formas de edição que as permitam. No artigo enviado à escola, as normas foram seguidas.



 Resumo

O objetivo desse trabalho é apresentar fragmentos dos processos analíticos pelos quais a atriz Marilyn Monroe passou nos últimos anos de sua vida, e como a transferência e a contratransferência foram manejadas pelos seus analistas, principalmente o seu último psiquiatra (psicanalista), o Dr. Ralph Greenson. Marilyn Monroe foi apresentada à psicanálise durante o curso Actor´s Studio, de Nova York, com o mestre Lee Stransberg. O Método Stransberg, ou Método de Ações, trabalhava a interpretação em cima de uma análise psicanalítica, incentivando os alunos a observarem a cena que iriam interpretar, a partir das emoções despertadas, revelando, assim, uma experiência emocional. Monroe passa a ser uma entusiasta da psicanálise e dos textos de Sigmund Freud. Ao longo de sua vida, teve três renomados psicanalistas de sua época: Margaret Hohenberg, Mariane Kris e Ralph Greenson. Além desses, a atriz passou por sessões com Anna Freud, que depois supervisionou os dois últimos analistas de MM. Ao logo desse texto, para entender a psiquê de Marilyn Monroe e sua constante dependência com seus analistas, serão apresentadas: a sua história do nascimento até se tornar atriz; a sua trajetória no estrelato até quando descobre a psicanálise; e, por fim, o processo de transferência da paciente com seus analistas e, em especial, com o Dr. Ralph Greenson, que comprometeu o processo analítico de Marilyn tendo a contratransferência como condução do manejo.

 

Descritores:

psicanálise, contratransferência, transferência, manejo psicanalítico, Marilyn Monroe, Ralph Greenson, Anna Freud


Introdução

         A transferência e contratransferência no processo analítico são formas de projeção ocorridas entre analisado e analista. A primeira refere-se às projeções do paciente para o seu analista, podendo ser positiva, com sentimentos de afeto, de admiração, de confiança, ou negativa, quando os sentimentos predominantes são a agressividade e a resistência. Já a contratransferência é a percepção que emerge no analista como resposta às manifestações do paciente e o que essas causam no analista. Ambas são importantes para a condução do analista no manejo com o seu paciente. No entanto, é fundamental que o analista as reconheça e as administre em função do paciente.

Essas duas importantes técnicas psicanalíticas foram utilizadas de forma inadequada nos processos analíticos da atriz Marilyn Monroe, questões centrais desse trabalho. Embora sejam apresentados fragmentos de seus três principais atendimentos analíticos, nos quais são relatados manejos em que técnicas psicanalíticas não foram respeitadas, como a abstinência e a neutralidade, o foco desse artigo é a relação conturbada de Marilyn Monroe com o seu último analista, Dr. Ralph Greenson.

O artigo foi desenvolvido por meio de revisão da literatura da vida da atriz Marilyn Monroe, com a finalidade de contextualizar sua estrutura psíquica. Foram revistas as seguintes obras: Marilyn últimas sessões (Michel Schneider), Marilyn (Norman Mailer), A deusa – as vidas secretas de Marilyn Monroe  (Anthony Summers), A vida secreta de Marilyn Monroe (J. Randy Taraborreli), Marilyn – retrato de uma estrela (Marie-Magdeleine Lessana) e a autobiografia inacabada My Story, de Marilyn Monroe, transcrita por Ben Hecht. Os textos trazem relatos da vida da atriz, do nascimento até a morte, e sua relação com a psicanálise e seus analistas. Além dessas leituras, foi analisado o último filme concluído pela atriz, Os Desajustados (1961), escrito pelo seu então marido, Arthur Miller, no qual a sua personagem, Roslyn, é considerada um retrato de Marilyn Monroe. Para contextualizar a teoria psicanalítica, foram utilizados os autores: Sigmund Freud, Heinich Racker e David E. Zimerman.

De 1955 a 1962, Marilyn Monroe foi atendida por três importantes analistas de sua época: Margaret Hohenberg, Mariane Kris e Ralph Greenson, tendo, também, passado por algumas sessões com Anna Freud, que, mais tarde, foi supervisora dos seus dois últimos analistas. Marilyn foi atendida por Greenson, tema central desse trabalho, nos últimos 30 meses de sua vida. Dr. Ralph Greenson utilizou a contratansferência como base de seu tratamento e, também, a condução da transferência de forma pouco ortodoxa, contribuindo para o desfecho trágico da atriz: o seu suicídio.

A pesquisa revelou a mitificação do paciente. No Caso Marilyn Monroe, todos os seus analistas a viam como um mito e não como um sujeito. Ou seja, Norma Jeane Becker não foi analisada, não foi colocada no divã. A principal problemática na condução de Ralph Greenson, além do uso inadequado da transferência e contratransferência, foi não ter tratado Marilyn Monroe como um sintoma de Norma Jeane Baker.


Norma Jeane antes de Marilyn Monroe

Norma Jeane Baker (Marilyn Monroe) nasceu em 1º de junho, em Los Angeles. Era a terceira filha de Gladys Pearl Baker. Constrangida por ser mãe solteira, Gladys preencheu o formulário do hospital indicando Edward Mortenson, como o pai. No entanto, a ficha de Norma Jeane foi arquivada com a indicação: “pai desconhecido”.



(...) quando a enfermeira levou a criança para a sala de recuperação, colocou o bebê no peito da mãe. Ela o segurou de olhos fechados (...). Norma Jeane era uma criança indefesa que chegara ao mundo sem nenhuma forma de boas-vindas. (...). Ela passou os primeiros dias de vida sendo simplesmente sustentada, não nutrida. Era um fardo, uma carga que precisava ser descarregada. (TARABORRELLI, 2010, p. 37-38)

Norma Jeane foi recebida no mundo sem a presença do pai e tampouco o apoio de outros familiares. Não havia ninguém para olhar para suas necessidades, selando uma história de abandono, frequentemente relatada pela atriz. Marilyn contou certa vez ao amigo Ralph Roberts sobre os sentimentos que experimentou nos diferentes momentos em que esteve em orfanatos ou em casas de adoção:


Eu acordava e, às vezes, pensava estar morta, como se houvesse morrido dormindo e não fosse mais parte do meu corpo. Não conseguia sentir o meu corpo, e pensava que o mundo havia acabado. Tudo parecia muito distante, como se nada mais pudesse me afetar. (TARABORRELLI, 2010, p. 71)

 

Tal relato expressa o vazio de Norma Jeane por não encontrar as referências que poderiam trazer sentido à sua vida. Reforça a sensação de não pertencimento da jovem, por não ter tido o olhar do outro, fazendo com que passasse a sua vida inteira nessa constante busca, sem, contudo, reconhecer esse olhar vindo do outro. Passou a vida acreditando que todos só enxergavam Marilyn Monroe, um personagem criado por Norma Jeane para sustentar a sua existência e lidar com o seu sofrimento.

Gladys tinha dois outros filhos (Berniece e Jackie), que moravam com o seu primeiro marido: Jasper. Após dar à luz à Norma Jeane, apresentou quadro de depressão pós-parto. Dias depois, teve um surto psicótico, quando atacou a amiga Grace McKee com uma faca, por acreditar que a mesma havia envenenado a recém-nascida. Após esse episódio, um acordo da avó materna de Norma Jeane, Della, e Ida Bolender foi firmado e o bebê foi entregue para adoção à família Bolender, 12 dias depois do nascimento. A família recebia cinco dólares por mês para cuidar da recém-nascida.

Na casa dos Bolender, Norma Jeane recebeu educação severa e formal. A família criava o filho legítimo com várias crianças adotivas. Os Blonder eram religiosos e frequentavam toda semana a igreja pentecostal. Sobre as suas idas aos cultos, Marilyn escreveu:



Eu sentia uma vontade irresistível de tirar toda a roupa. Queria desesperadamente me levantar toda nua para que Deus e os outros me olhassem, tinha que cerrar os dentes e sentar em cima das mãos para não me despir (...) Nos meus sonhos, eu entrava na igreja usando uma saia rodada, sem nada por baixo. Os fiéis estavam deitados de costas, eu passava por cima deles e eles olhavam por sob a minha saia (... ) sentia-me menos sozinha, quando sonhava que as pessoas me olhavam. (MONROE; HECHT,  197, p. 18). 

 

Mais tarde, quando já era Marilyn Monroe, adorava ficar nua sob as roupas, lençóis e penhoares. De maneira ingênua, deixava à mostra suas formas para impressionar e se sentir vista. Desde muito cedo, usou sua beleza e o seu ar de menina para seduzir, seja quem fosse.

Aos sete anos, teve um cãozinho chamado Tippy, que foi morto por um vizinho, levando-a a ter uma crise nervosa, o que fez com que os pais adotivos chamassem Gladys, que a levou da casa. Em suas memórias, Marilyn disse que esse havia sido o primeiro dia feliz de sua vida, pois iria morar com a mãe.

Para criar a filha, Gladys comprou uma casa em Hollywood Bowl. Duas coisas significativas tinham nessa casa para a pequena Norma: um piano branco meia cauda, que foi resgatado mais tarde por Marilyn Monroe e a acompanhou para sempre, e uma foto de Charles Stanley Gifford, dito seu pai pela mãe.



Era tão bom ter um pai, poder olhar sua foto e saber que pertencia a ele. E que fotografia maravilhosa era. Ele usava um chapéu desleixado um pouco de lado. Havia um sorriso animado em seus olhos e ele tinha um bigode fino como Clark Gable. (MONROE; HECHT, 1974, p. 13).  

 

Embora reconhecido por Marilyn e Gladys como seu pai, Gifford nunca quis conhecê-la. Anos mais tarde, quando era casada com Jim Dougherty, Norma Jeane entrou em contato com o suposto pai e, quando falou que era filha de Gladys, ele desligou o telefone. Segundo Lessana (2005, p. 26) “ela pediu a Jim que a abraçasse com força durante as horas que se seguiram. Tal cena de apelo ao pai repetiu-se diversas vezes em sua vida”.

Norma Jeane passava os dias olhando para a foto do suposto pai e sempre o associava à imagem do ator Clark Gable, com quem filmou Os Desajustados (1961). Na película, última dos dois, há uma cena de amor entre Monroe e Gable. Na versão original, a atriz deixa cair o lençol, mostrando os seios (a cena foi cortada e descoberta anos depois).  Em entrevista, Marilyn Monroe afirmou que o amava como um pai, mas que, ao mesmo tempo, queria beijá-lo na boca.

Em 1934, após o suicídio do seu avô e a morte do seu filho Jackie, Gladys, mãe de Monroe, com 32 anos, teve outro surto psicótico. Ao receber a notícia da morte do filho, diz à filha: “Por que não foi você?” (TARABORELLI, 2010, p. 60).

A partir daí, Gladys começa a ouvir vozes, sofrer alucinações e ter delírios persecutórios, sendo diagnosticada com esquizofrenia paranoide, assim como sua mãe, Della.

 


Ela nunca me beijou ou me segurou em seus braços ou mal falava comigo. Eu não sabia nada sobre ela na época, mas alguns anos depois aprendi várias coisas. Quando penso nela agora, meu coração dói duas vezes mais do que quando eu era uma garotinha. Isso me machuca por nós duas. (MONROE; HECHT, 1974, p. 11).

 

Norma Jeane, após poucos meses vivendo com sua mãe, é abrigada por Grace McKee, que se torna sua guardiã legal. Mas antes disso, passou seis meses em um orfanato. Finalmente, após se acostumar com a ausência da mãe, se sente segura e feliz. Algum tempo depois, McKee se casa com Erwin Goddard. O casal se instala em um bangalô com Norma Jeane e a filha de Goddard. Monroe conta em suas memórias que nesse período um vizinho a obrigou a fazer sexo oral, o que sua guardiã ignorou solenemente.

Goddard reclamou por sustentar Norma Jeane e McKee a levou novamente para um orfanato, onde ficou por dois anos. Foi nesse período que Norma Jeane desejava que Clark Gable fosse o seu pai. Em suas memórias, Marilyn Monroe contou sobre o sentimento de abandono e revelou que chegou a escrever uma carta para si, assinada como “papai e mamãe” para mostrar às colegas.

Aos 11 anos, Norma Jeane volta a morar com o casal McKee e Goddard, que a assedia após uma bebedeira, fazendo com que sua guardiã a afaste da família novamente, levando-a para a casa da sua própria família, os Monroe. Aos 12 anos, Norma Jeane é agredida sexualmente pelo primo Jack Monroe. McKee a tira de lá e a leva para morar com sua tia materna, Ana Atchinson Lower. Sobre a tia Ana, Marilyn Monroe relatou que foi a primeira pessoa no mundo que amou.

Aos 13 anos, Norma Jeane já não cabia mais no vestido azul que herdou do orfanato, e então decidiu usar calças masculinas com um casaquinho e passou a ser vista e admirada. Passava horas nos banheiros retocando a maquiagem. “Foi assim que Norma inventou a sua visibilidade: fazendo-se de extravagante”. (LESSANA, 2005, p. 22).

Ao longo de sua vida, Monroe sempre usou a sua beleza extravagante e sua ingênua sensualidade para ser vista. No entanto, sempre dizia com dor que as pessoas a olhavam, mas não a enxergavam, querendo já salientar que Norma Jeane não era vista e, com isso, para ter o olhar que tanto desejava, começou a criar Marilyn Monroe.

No final de 1940, Norma Jeane volta a morar na casa de McKee e se aproxima da filha de Goddard, Eleonore. As duas se tornam amigas.  Norma conhece o vizinho Jim Dougherty, que era mais velho que ela e Eleonore, e, constantemente, era responsável por buscá-las na escola. Considerava o vizinho um sonho de namorado, com seu fino bigode, lembrando a foto do seu suposto pai e Clarck Gable. Dougherty a chamava de “filhinha”.

Em 1942, Goddard é transferido para a costa leste e decidi não levar Norma Jeane. McKee sugere à mãe de Jim Dougherty que incentive o casamento entre os jovens. Norma Jeane aceita a sugestão, com medo de ser novamente levada ao orfanato. Dougherty conta que sua jovem esposa era fogosa na cama e, quando desejava sexo, fazia um sinal ao marido, que tinha que satisfazê-la no lugar em que estivessem.

Norma Jean adorava escrever bilhetes ao marido, chamando-o de “Querido Papai” e assinando como “Tua Filhinha”. “Daddy” (papai) será o apelido que Marilyn Monroe dará a seus dois outros maridos: Joe DiMaggio, jogador de beisebol, e Arthur Miller, dramaturgo.  

Ainda casada, Marilyn Monroe, a então Sra. Norma Jeane Dougherty, começa a apresentar comportamentos preocupantes. Dougherty contou em suas memórias que em uma  noite acordou e não encontrou a esposa ao seu lado e foi até o portão de casa e, ao longe, avistou-a correndo em direção à casa apenas de camisola. Ao chegar, Norma Jeane o abraçou assustada dizendo que havia um homem atrás dela e que o tinha vista dentro de uma casa escura e depois em cima de árvores e, em seguida, dentro de um carro. Seu marido contou que Norma Jeane continuou acreditando que estava sendo seguida por um longo tempo.

            O casamento começa a ruir e, quando Dougherty é convocado para o oeste do Pacífico, Norma Jeane, apesar dos problemas no casamento, sofreu muito com sua partida, pois para ela era mais um episódio de abandono. Passa, então, a morar com os pais do marido.


Marilyn Monroe: nasce o mito

No final de 1944, ainda casada com Dougherty, Norma Jeane era funcionária na linha de montagem de uma indústria de drones e pequenos aviões. Foi nesse período que a sua fama de não cumprir horários começou, sintoma que persistirá ao longo de sua carreira, bem como nas sessões de análise.

Numa ocasião, Norma Jeane e algumas colegas foram selecionadas para posar para uma foto de uma unidade militar que estava produzindo um documentário. A sua beleza ingênua chamou a atenção do fotógrafo David Conover, que a convidou para posar para ele, em estúdio, para fotos coloridas. “Algo novo e vivo emanava dela (...) uma coisa luminosa, uma fragilidade extraordinariamente vibrante” (LESSANA, 2005, p. 26). A partir de então, Norma Jeane passou a trabalhar como modelo.

         



A carreira da já então Marilyn Monroe começa e sua beleza chama a atenção e ela buscou novos trabalhos como modelo. Foi quando chegou ao fotógrafo Tom Kelley, que a convidou para uma campanha de cervejas. O resultado foi surpreendente e despertou o interesse de uma empresa que produzia calendários. Porém, a foto seria nua. Marilyn Monroe nunca teve problemas em mostrar o seu corpo. A nudez sempre lhe pareceu natural. Aceitou o trabalho e recebeu por ele apenas 50 dólares. Pensando já no futuro, assinou como Mona Monroe. Mais tarde, a descoberta e divulgação na imprensa desse calendário, quando Marilyn Monroe já era uma estrela, foi um dos muitos escândalos que enfrentou em sua vida.   

Dougherty disse a esposa que, durante a sua ausência, poderia continuar como modelo, porém, quando ele retornasse ao lar, ela deveria abandonar essa atividade para constituir uma família. Foi quando Norma Jeane soube que seu casamento estava definitivamente no fim.

Nesse período, conheceu o fotógrafo André de Dienes, que a imortalizou em muitas das famosas e ícones fotos. Dienes apaixonou-se pela jovem, que sempre foi distante. No entanto, quando fotografavam no Oregon, Norma Jeane levou Dienes para visitar sua mãe, que morava em um quarto em um pequeno hotel.  Segundo Dienes (LESSANA, 2005, p. 28 [DIENES, 2002, p. 110]), “ela recebeu Norma Jeane com uma cara triste (...). Entabularam uma conversa difícil em um tom monocórdio. Sua mãe parecia encarquilhada, frágil, ausente, desprovida de qualquer emoção.” 

Foi exatamente nessa noite, que o fotógrafo recebeu os favores sexuais da jovem modelo, que a levou ao choro logo em seguida. Durante a sua vida, Marilyn Monroe usou o sexo para se sentir amada, reconhecida e vista.  Há relatos, e inclusive depoimentos da atriz, que confirmam que a bela Marilyn Monroe sempre usou o sexo como moeda de troca para ter afeto e atenção. Relacionou-se com vários atores e diretores. Entre eles, Charlie Chaplin. O romance, que durou poucos meses, terminou quando o filho de Chaplin encontrou a namorada do pai com o seu irmão. Nessa época, ela fez um dos dose abortos, segundo seus biógrafos.

Na primavera de 1946, a jovem Marilyn Monroe era capa de 33 revistas. No mesmo ano, divorciou-se de Jim Dougherty. No ano seguinte, aos 21 anos, entrou pela primeira vez em um set de filmagem para participar de Tormentas de Ódio (1947). Após o término do contrato com o Estúdio Fox, o mesmo não foi renovado e Marilyn sofreu a primeira das muitas decepções em sua carreira. Todas as vezes em que foi dispensada, nutriu um sentimento de abandono e entrou em profunda tristeza. Sobre a demissão do Estúdio Fox, Marilyn Monroe disse:


Ao chegar em casa, deitei-me na cama e comecei a chorar. Chorei durante uma semana, sem comer, sem falar e sem me pentear. Não conseguia parar de chorar, como se estivesse ido ao enterro de Marilyn Monroe. É assim que reagimos quando nos sentimos no fundo do poço. Não detectamos sequer aqueles que nos empurraram. Simplesmente sentimos vergonha. Eu já sentira essa vergonha na minha infância, quando me expulsavam. (MONROE; HECHT, 1974, p. 101).

Em 1948, assinou contrato com o Estúdio Columbia e participou do filme Mentira Salvadora (1948). Poucos meses depois, foi demitida do estúdio, e, novamente, sofreu com essa demissão. Porém, recebeu uma crítica favorável sobre sua atuação do jornalista Tibor Krekes, do Motion Pictures Herald. “Um dos melhores momentos é a canção da Srta. Monroe. Ela é bonita e, com estilo e voz agradável, mostra que tem futuro” (VOLTOLINI, 1991, p. 63).

Em 1949, Marilyn Monroe conheceu Johnny Hyde, um influente caçador de talentos que prometeu transformá-la em uma estrela; e assim, nasceu a Marilyn Monroe “platinada”, e foi admitida novamente pelo Estúdio Fox, com um contrato de sete anos.  

Diferentemente do que se imagina, Marilyn Monroe era muito dedicada à sua formação. Frequentou importantes escolas para atores e fez curso de canto e de dança. Além disso, era uma leitora seletiva de grandes escritores. Entre eles, Proust, Ernest Hemingway, James Joyce e o poeta Rainer Maria Rilke. Aos 25 anos, se inscreveu em um Curso de Literatura e Apreciação de Arte na UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles).

O primeiro papel importante da atriz foi em O segredo das joias (1950), sob a direção de John Houston. Ironicamente, Houston também será o diretor do seu último filme: Os Desajustados (1961).

Em setembro de 1950, o seu protetor, Johnny Hyde, morreu, e Marilyn, consternada, tentou o suicídio, tomando uma overdose de pílulas para dormir. A atriz confessou a amigos que essa teria sido sua terceira tentativa de suicídio.

Dois anos depois, durante as filmagens de Os homens preferem as loiras (1953), Marilyn Monroe namorou o ator Edward G. Robinson Jr., conhecido por consumir drogas. É nessa época que a atriz intensificou o uso de barbitúricos fortes, como Nembutal. No mesmo ano, mais uma tragédia na vida de Marilyn: sua tutora Grace McKee se suicidou tomando uma overdose de barbitúricos. Em suas memórias, Marilyn Monroe fez uma revelação ou um pedido de socorro muito claro, embora tenha conjugado no passado. “Eu era o tipo de garota que eles encontraram morta em um quarto do corredor com um frasco vazio de pílulas para dormir nas mãos” (MONROE; HECHT, 1974, p. 62).

Em janeiro de 1954, Marilyn Monroe se casou com o astro do beisebol Joe DiMaggio. A carreira da atriz estava em plena ascensão e ela emendou uma filmagem na outra, com inúmeros eventos para promover seus filmes, sessões de fotos e entrevistas à imprensa. Além de intensificar o consumo de drogas, os seus compromissos desgastaram o seu relacionamento com o ciumento marido. Em agosto do mesmo ano, nas filmagens de O pecado mora ao lado (1955), com o ator Tom Ewell, DeMaggio, que assistia à filmagem, ficou enfurecido com a exibição da calcinha da esposa, na famosa cena da ventilação do metrô. A briga que se seguiu após esse episódio fez com que Marilyn afrontasse o marido, que já havia lhe pedido para abandonar a carreira.  

As brigas entre o casal foram intensificadas e, em outubro, Monroe anunciou o divórcio, alegando que sofria crueldade mental. Segundo Marybeth Cooke, funcionária do advogado da atriz, Jerry Gleisner, todos sabiam que Marilyn Monroe ainda era apaixonada por DeMaggio, mas que ele a agredia fisicamente.

Apesar de nitidamente estar em um relacionamento abusivo, sofrendo agressões verbais e físicas, Monroe desejava salvar o seu casamento, mas o divórcio foi assinado e, mais uma vez, ela se fechou, se calou e passou dias na cama sob o efeito de medicamentos.

Com o final de seu casamento e das filmagens de O pecado mora ao lado, decidiu que já era hora de deixar de representar os papeis sensualizados de até então e montou sua própria produtora: Marilyn Monroe Productions (MMP). Consequência: foi suspensa do Estúdio Fox.

Além de mais uma decepção profissional, uma série de acontecimentos abalaram a sua saúde física e mental. Entre eles, o caso “o ataque à porta errada”, quando DiMaggio enfurecido de ciúmes pela ex-esposa invadiu uma casa errada na intenção de pegá-la com um novo amante; o controle obsessivo da sua professora de artes dramática Natasha Lytess; e as cartas diárias de sua mãe, acompanhadas de livros e panfletos relacionados à ciência cristã, com súplicas para que ela a retirasse do asilo.

Diante desse cenário, partiu então para Nova York e se inscreve no curso Actor´s Studio, com o professor Lee Stransberg, que despertou na atriz o interesse pela psicanálise.


Marilyn Monroe: o encontro com a psicanálise

Lee Stransberg tinha um método peculiar de ensinar atuação. Diferentemente de seus colegas, que se apoiavam unicamente no texto, realizava seu trabalho em cima de uma análise psicanalítica da cena e do próprio ator, incentivando terapias livres de grupo. O aluno participava de duas aulas semanais abertas e particulares. Fossem nas sessões abertas ou individuais, Stransberg orientava os alunos a observarem a cena que iriam interpretar, a partir das emoções despertadas, revelando, assim, em cada aluno, uma experiência emocional.


Tratava-se não de fazer surgir a lembrança de uma experiência emocional, mas de viver aqui e agora o ´recalcado’ cinético deixado por uma experiência emocional de sua própria vida, incluindo paladar, olfato, visão, audição e tato, ainda que ela não reportasse diretamente à cena. Com frequência, esses retornos de sensações eram vividos de maneira intensa, e os alunos saíam em lágrimas das sessões de trabalho. (LESSANA, 2005, p. 68). 

 

O professor se encantou pela beleza e sensibilidade da nova aluna e prometeu ajudá-la a descobrir a sua personalidade oculta, oferecendo-lhe mais aulas particulares, desde que ela frequentasse um psicanalista. Susan Stransberg, filha de Stransberg, disse que seu pai queria despertar tudo que não havia sido trabalhado, tudo que fora reprimido com relação ao passado de Marilyn Monroe, e assim mobilizar toda a sua energia explosiva.

Segundo colegas de turma no Actor´s Studio, Stransberg era bastante cruel com a atriz, dizendo coisas como: “é assim que ninguém que nunca sentiu nada antes faria essa cena; agora tente repeti-la como alguém que é capaz de experimentar emoções”. (TABORRELLI, 2010, p. 223).

Foi então que Monroe seguiu a sugestão de seu novo professor e iniciou seu tratamento analítico, com cinco sessões semanais, com a psicanalista húngara Margareth Herz Hohengerg, instalada em Nova York, indicada pelo amigo e fotógrafo Milton Greene e aprovada pelo seu então professor de interpretação. A atriz se sentiu motivada para buscar análise por diversas perturbações, como traumas de infância, falta de autoestima, necessidade obsessiva de aprovação dos outros, incapacidade de conservar laços de amizade ou de amor, medo de ser abandonada.

É também nesse período, em Nova York, que Monroe reencontrou o dramaturgo Artur Miller, então casado, com quem inicia um caso amoroso. Miller, mais tarde, será o seu terceiro e último marido.

Em uma das primeiras sessões com Hohenberg, Marilyn disse:


(...) tento ser verdadeira, mas frequentemente as janelas se abrem, sem eu querer para o vazio. Tenho medo de ficar louca. Tento pôr para fora o que há de verdadeiro em mim, mas é muito difícil. (...) e eu me digo que sou uma falsária. (...) quero ser prefeita. Lee sempre diz que eu tenho que partir de mim mesma. Eu lhe respondo: eu mesma? O que é eu mesma? Quem? Não sou tão importante. Quem ele acha que eu sou: Marilyn Monroe? (SCHNEIDER, 2006, p. 80).

  Era comum Marilyn Monroe falar sobre si na terceira pessoa, em uma tentativa de tentar entender quem era: Norma Jeane ou Marilyn Monroe. Ou então, em separar as duas mulheres, fazendo de Marilyn Monroe um personagem criado para suportar a dor da existência de Norma Jeane. Após um ano de tratamento com Margareth Hohengerg, Monroe se sentia transformada: começou a se julgar e a se aceitar melhor. Era tão grata à analista que a incluiu em seu testamento. Atos como esse demonstram a necessidade constante de Marilyn Monroe de não ser esquecida e ser “eternamente” amada, nem que para isso ela tivesse que trocar sexo ou dinheiro por afeto.

Na época, os estúdios cinematográficos recorriam aos psicanalistas das celebridades para ajudá-los com seus pacientes, e a relação entre analistas e seus celebres pacientes era íntima, ultrapassando o setting. Segundo o autor e psicanalista Michel Schneider (2006, p. 79), “Los Angeles permanecia a cidade do cinema, com seus psicanalistas tomados pela febre dos estúdios, contaminados pela paixão das imagens”.  

Logo, não poderia ser diferente com a psicanalista de Marilyn Monroe, que foi chamada para apoiar a sua paciente na ocasião das gravações de Nunca fui santa (1956). Outro fato intrigante dessa relação analista-paciente, é que Monroe só aceitou o pedido de casamento de Artur Miller (1956), após sua analista ter aprovado.

Miller apoiava esse formato de relação de sua esposa com Hohenberg e reconhecia os avanços no tratamento, disse: “Marilyn descobriu que em muitas situações não é ela quem está errada; é uma grande mudança e ela mesma diz que a deve à psicanálise”. (SUMMERS, 1987, p. 205).

A atriz se tornou uma adepta e divulgadora dos benefícios da psicanálise. Em uma entrevista coletiva, quando perguntada o que procurava no processo analítico, respondeu: “Só posso dizer que acredito na interpretação freudiana. Espero poder, um dia, fazer um relato esclarecedor das maravilhas que os psiquiatras podem realizar por você”. (SCHNEIDER, 2006, p. 80).

A cada sessão, Monroe ficava mais dependente da intervenção da sua analista em situações fora do setting. Hohenberg passou a solucionar desde problemas com seu cabelereiro, opinando e proibindo relações, cuidando de suas finanças e interferindo sobre sua atuação. A necessidade constate de aprovação fez com que Monroe estabelecesse com todos os seus analistas uma relação de dependência e, para tal, de sedução.

Em 1956, durante as filmagens de O Príncipe Encantado, com Laurence Olivier, em Londres, Marilyn Monroe sofreu uma crise que a levou a ver Anna Freud. Em seus arquivos, a psicanalista descreveu a paciente como:



Emocionalmente instável, altamente impulsiva, necessitando de aprovação contínua do mundo exterior; ela não suporta a solidão, ela tende a ficar deprimida quando confrontada; com traços esquizofrênicos paranoicos.¹ (Il MESSAGGERO [FREUD, A.], online, 2016).

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No início de 1957, Marilyn Monroe rompeu com Margaret Hohenber e iniciou o seu tratamento psicanalítico com Marianne Kris, indicada à atriz por Anna Freud. Kris era filha do pediatra dos filhos de S. Freud e amiga de infância de Anna Freud, que, assim como a amiga, havia sido tratada pelo próprio Pai da Psicanálise. Sendo assim, Marilyn acreditava entrar em contato com a própria fonte freudiana. Anna Freud continuou como supervisora do “Caso Marilyn Monroe” quando a atriz foi atendida por Marianne Kris.  

Durante as suas sessões com Marianne Kris, a atriz era convocada a exercícios de memória para relembrar sua infância e os primeiros anos de vida, o que a aterrorizava, pois, quando sua psicanalista lhe fazia uma pergunta à qual não sabia responder, inventava qualquer coisa interessante.

Tanto com Margaret Hohenber, como com Marianne Kris, Marilyn Monroe tinha a impressão de andar em círculos em um passado difícil de ser acessado. Em uma ocasião, confessou ao seu agente Rupert Allan:  


Era sempre assim: como eu tinha vivido isso ou aquilo, por que, na minha opinião, minha mãe tinha agido de determinada maneira. Elas nunca procuravam saber onde eu queria ir, sempre onde eu tinha estado. Mas eu sabia muito bem onde eu tinha estado, em que infância suja. O que queria saber era o que fazer para superá-la. (SCHNEIDER, 2006, p. 132).

Marilyn Monroe passou a usar cada vez mais barbitúricos para aliviar o sofrimento das duas experiências analíticas, pois acreditava que faziam mais efeito que as sessões. Tentou mais uma vez o suicídio e foi salva pelo seu marido Arthur Miller, que disse mais tarde: “A morte, o desejo de morte, surge sempre de lugar nenhum” (SCHNEIDER, 2010, p. 132).

Ao voltar para Los Angeles, em 1960, Marilyn Monroe passa a ser atendida pelo psicanalista, também supervisionado de Anna Freud, Dr. Ralph Grensson, que será o seu último analista.


Fragmentos da condução do Caso Marilyn por Ralph Greenson:

o último analista

Dr. Ralph Greenson iniciou o tratamento de Marilyn Monroe em 1960, indicado por Marianne Kris e supervisionado, mais tarde, por Anna Freud. Greenson era considerado um psicanalista importante da sua época. No mesmo ano (1960), foi nomeado Professor Titular de Psiquiatria na Escola de Medicina da UCLA (Universidade da Califórnia) e Presidente do Instituto de Formação de Psicanalistas, filiado à IPA (International Psychoanalytical Association).

A primeira vez que Marilyn chegou ao seu consultório, observou que não tinham quadros ou fotos de Freud, o que estranhou. Havia, sim, uma gravura com a silhueta de uma mulher nua que chamou a sua atenção e, a todo tempo, em suas sessões, comparava-se com a imagem, com falas sensuais e provocativas ao analista.

Greenson passa, então, a atendê-la todos os dias com sessões que chegavam a durar até quatro horas. Após alguns encontros, o psicanalista disse a colegas da sua preocupação sobre a possível manifestação da esquizofrenia paranoide limítrofe na paciente, quando ficasse mais velha.

A suspeita do psicanalista era embasada pelo histórico familiar de sua paciente – sua avó (Della) e sua mãe (Gladys) foram diagnosticadas com a mesma condição – e também por ela apresentar delírio persecutório, além de uma fala fantasiosa.

A relação entre Dr. Greenson e sua paciente se estreitou cada vez mais.  A transferência de Marilyn com o seu analista fazia com que ora ela desejasse que ele a possuísse, ora que fosse o seu pai, chegando, inclusive, a afirmar que adoraria ser adotada oficialmente por Greenson e sua esposa Hildegarde.

Greenson passa a se envolver na vida profissional de sua paciente, a quem chamava de “minha esquizofrênica favorita”. Era comum a visita do analista às dependências do Estúdio Fox. Ele garantia aos diretores que sua paciente “faria tudo que ele mandasse”; ele determinava as cenas, escolhia as tomadas e comandava todas as decisões contratuais da atriz.

O que Greenson não fazia era escutar um dos grandes anseios de Marilyn Monroe: ser reconhecida como uma atriz séria e não apenas um símbolo sexual cada vez mais explorado nas películas que fazia. O que significava para a atriz ser “ela mesma”, ou seja, Norma Jeane. Esse sempre foi um grito de socorro para que seus analistas entendessem que Norma Jeane queria se livrar do sintoma Marilyn Monroe.

No entanto, seu analista acreditava que a paciente deveria renunciar essa ambição para eliminar os sintomas que enxergava.



Tudo indica que Greenson não sabia abrir espaço para o que fosse aterrador e repetitivo para Marilyn. Ele abordava a situação segundo os seus critérios burgueses e psiquiátricos; manobrava as questões a fim de que estas se tornassem possíveis aos seus olhos, disposto a sugerir à Marilyn que desistisse de suas ambições. Procurava transmitir-lhe mimeticamente seus valores pessoais. (LESSANA, 2005, p. 160).

 

Em duas ocasiões, Greenson interveio em oportunidades em que Marilyn Monroe poderia satisfazer o seu grande desejo de ser uma atriz dramática. A primeira delas foi quando o diretor John Houston pensou em Marilyn para o papel da histérica Cecily Koertner, no filme Além da Alma (1962). É importante ressaltar que, devido à interferência de Anna Freud e outros psicanalistas, o filme levou cinco anos para ser concluído e lançado. Anna Freud também não queria Marilyn Monroe no papel.

Outra oportunidade que surgiu para a atriz foi para interpretar a personagem Nicole Warren, no filme Suave é a Noite (1962), adaptado da obra homônima de F. Scott Fitzgerald, que conta a história de uma paciente psiquiátrica que se apaixona e se casa com o seu psiquiatra. Greenson foi chamado para ajudar na adaptação do texto no que se referia à relação paciente e médico.

Em 1960, Marilyn Monroe partiu para Nevada para gravar Os Desajustados (1961), com direção de John Houston e roteiro do seu marido Arthur Miller. Quando Houston lhe apresentou o papel, não se sentiu confortável em interpretar a história de uma mulher perdida entre três homens e cavalos destinados ao abate, dizia se parecer demais com ela. “O duplo de mim mesma. (...) as mesmas angústias, o mesmo sentimento de ser sempre abandonada, a mesma dificuldade de viver” (SCHNEIDER, 2005, p. 98).

  Durante as filmagens de Os Desajustados (1961), Monroe quase sofreu uma overdose por barbitúricos e foi hospitalizada pelo seu analista. Era um momento delicado para a atriz: seu casamento com Miller estava no fim e o seu caso amoroso com Montgomery Clift, um dos atores da película, era confuso e lhe causava profunda perturbações. Alguns dias após o término das filmagens, em novembro de 1960, Clark Gable morreu de infarto. Ao ir ao seu enterro, Monroe se comportou como uma viúva e confessou, mais tarde, em uma de suas sessões com Greenson:


Desde que Clark morreu, você não pode imaginar como estou perturbada. Nas cenas de amor de “Os desajustados”, eu o beijava com paixão. Gostava de seus lábios, e o seu bigode me acariciava lentamente(...). Eu não queria dormir com ele; eu queria simplesmente que ele soubesse como eu o amava. (SCHENEIDER, 2006, p. 141).

  Em janeiro de 1961, Marilyn Monroe retornou a Nova York e às sessões com Marianne Kris. No dia 31, vai à estreia de Os Desajustados e tem uma crise. Foi perturbador para a atriz assistir às cenas com o seu amigo Gable e, também, se identificar com a personagem Roslyn, o que levou Marianne Kris a temer por um suicídio e a convenceu a se internar. O que, mais uma vez, foi um fracasso. Após a internação em Nova York, abandonou a cidade e a analista e retornou a Los Angeles para as sessões com Dr. Ralph Greenson. Passou, novamente, a ter sessões diárias e longas.

Em 4 de dezembro de 1961, Dr. Greenson escreveu à Anna Freud e relatou:


Retomei o tratamento de uma paciente tratada por vários anos por Marianne Kris, que se tornou boderline, com distúrbios paranoides, doente grave, atriz. Pode imaginar como é difícil tratar alguém com tantos problemas graves e que também é uma celebridade e completamente sozinha no mundo. A psicanálise está fora de questão e tento improvisar, frequentemente surpreso ao ver aonde isso está me levando, não vendo outra direção a tomar. Se for bem-sucedido terei aprendido alguma coisa, mas é um processo longo e repleto de emoções. (LESSANA, 2005, p. 158).

 

Anna Freud respondeu ao colega:


Estou a par dessa paciente de Marianne Kris e de suas lutas pessoais com ela. Parece alguém de valor, segundo a descrição de Marianne. A questão é saber se alguém pode, em seu lugar, dar-lhe o impulso para viver bem que ela própria deveria ter. Tratei um homem desse tipo, não paranoico, mas um homossexual complicado e autodestrutivo, não uma celebridade, mas alguém especialmente beneficiado por seu status, o que dá praticamente no mesmo. Foi um sucesso, mas vale ressaltar que ele tinha uma profunda determinação a ficar bem (tenho costume de dizer que um ancestral deixou isso dentro dele), da qual não se servira antes, mas que a análise conseguiu explorar. (LESSANA, 2005, p. 158).

 

Anna Freud deixa claro em sua resposta ao colega, que faltava na paciente Marilyn Monroe o desejo de ficar bem, pois ela não havia recebido o olhar/cuidado do Outro. Portanto, não sabia aonde e nem como buscar o seu bem-estar. No entanto, Dr. Greenson tentou introjetar esse desejo e seus próprios valores a sua paciente, o que chamava de “projeto reparador”.

Em maio de 1961, descreveu à Marianne Kris o seu projeto reparador com a paciente Marilyn Monroe:


Acima de tudo, tento ajudá-la a não se sentir sozinha, pois isso a leva a evadir-se nas drogas ou envolver-se com pessoas muito destrutivas, que entrarão em uma relação sadomasoquista com ela. É o gênero de programa que se aplica a uma adolescente que precisa de conselhos, amizade e firmeza. (...). Ela disse que pela primeira vez estava impaciente para vir a Los Angeles, porque poderia falar comigo. Naturalmente, isso não a impede de cancelar várias sessões para ir a Palm Springs para se encontrar com Mr. F.S [Frank Sinatra]. Ela me engana como a um pai. (LESSANA, 2005, p. 160).

  A atriz seguiu cada vez mais os desejos de seu analista que a orientou a contratar Mrs. Murray como assistente, passando a ser os olhos de Greenson em sua casa. Em janeiro de 1962, incentivada pela sua assistente e seu analista, Monroe comprou uma casa no mesmo bairro e parecida com a do seu analista.

Nos últimos meses da vida de Marilyn Monroe, Dr. Greenson a estimulou a lhe telefonar sempre que precisasse e a frequentar a sua casa, inclusive, sendo sua hóspede durante uma semana, recomendando ao seu filho que se tornasse seu confidente.

Ainda em 1962, Marilyn Monroe se envolveu com os irmãos Kennedy, o que Greenson desaprovou. Uma das posturas do analista era a tentativa de afastá-la de amantes e amigos que considerava perigosos, afirmando à paciente sobre o seu comportamento sadomasoquista e a dificuldade de se afastar de relacionamentos abusivos, o que a irritava. Em uma ocasião, Monroe comprou uma cópia de bronze de uma estatueta de Rodin (O Beijo) e a levou para o analista e, em tom agressivo, apoiando-se na obra, perguntou o que significava a postura erótica do homem que parece ao mesmo tempo fazer mal e querer amar a mulher.

Em abril de 1962, Dr. Ralph Greenson escreveu novamente à Anna Freud, dizendo que desejava partir para a Europa. “Acho que ela [Marilyn] vai conseguir sobreviver sem mim, mas não tenho certeza de que sobreviverei a isso”. (LESSANA, 2005, p. 162).

Era evidente que o analista estava em conflito com esse atendimento e, em maio de 1962, parte em viagem para a Europa, deixando sua paciente em um momento em que passava por dificuldades profissionais e amorosas. Mais uma vez, Monroe se sentiu abandonada e entrou em profunda crise se entregando aos barbitúricos e à promiscuidade. Como Greenson estava diretamente envolvido nas negociações do filme Sommething´s got to give (1962, inacabado), retornou rapidamente, mas Marilyn Monroe anunciou ao analista que desejava interromper suas sessões. Sobre isso, Greenson escreveu à Marianne Kris:



Eu me dava conta que começava a irritá-la. Ela se irritava frequentemente quando eu não concordava absolutamente e totalmente com ela. (...) Eu lhe disse que voltaríamos ao assunto, que ela deveria me ligar no domingo [05 de agosto de 1962] de manhã (LESSANA, 2005, p. 163).

 

No entanto, na madrugada do dia 5 de agosto de 1962, Dr. Ralph Greenson é chamado por Mrs. Murray a ir à casa de Marilyn Monroe e a encontra morta em sua cama, vítima de overdose por barbitúricos.

Alguns dias após à morte de Marilyn, Anna Freud escreveu a Greenson:


Estou terrivelmente desolada a respeito de Marilyn Monroe. Sei exatamente o que você está sentindo, pois me aconteceu a mesma coisa com um paciente que tomou cianureto dois dias antes do meu retorno dos Estados Unidos há alguns anos. A gente procura e procura na cabeça para saber como poderíamos ter feito melhor e isso dá uma terrível sensação de fracasso. Mas saiba que nesses casos acho que o fracasso tem uma origem mais forte do que nós e em relação à qual a análise, com todos os seus poderes, é uma arma muito fraca. Quando li nos jornais que ela teve 12 família adotivas, isso me lembrou as crianças dos campos de concentração que tratamos e que têm as mesmas angústias, ou que tentamos tratar em nossa Clínica. O problema é que nenhuma delas mostrava a espécie de transferência utilizável em análise, apesar de seu apego ao analista. Estou desolada por ela com todas as suas desgraças. Escreva rápido e não fique muito infeliz!  (LESSANA, 2005, p. 164).

 

Greenson respondeu:


(...) Foi um golpe terrível sob diversos aspectos. Cuidei dela, era minha paciente. Era muito patética e teve uma vida terrível. Eu tinha esperança por ela e achávamos que estávamos progredindo. E agora ela está morta e compreendo que todo o meu saber, meu desejo e minha determinação não foram suficientes. Deus sabe que tentei, e imensamente, mas não consegui vencer todas as forças destrutivas nela impregnadas pelas experiências de sua vida passada e mesmo de sua vida presente. (...) Foi um golpe no meu orgulho, mas igualmente na minha ciência, da qual me considero bom representante. (LESSANA, 2005, p. 164).

 

Ao longo de sua vida, Ralph Greenson publicou vários artigos, apresentando a condução do Caso Marilyn Monroe, sem conduto, nomeá-la, como uma tentativa de se desculpar, ou se proteger, das críticas da comunidade psicanalítica.


 A transferência e a contratransferência nos fragmentos dos processos analíticos de Marilyn Monroe

Nos fragmentos dos processos analíticos de Marilyn Monroe apresentados nesse artigo é possível observar que a transferência e a contratransferência foram manejadas inadequadamente, levando a paciente a total dependência de seus analistas para questões, desde simples, como escolher o traje que iria usar, ou mais complexa, como necessitar da aprovação do analista para se casar ou se relacionar com determinadas pessoas. Revelando, assim, que nenhum de seus analistas enxergou Marilyn Monroe como um sintoma de Norma Jeane Baker, ou seja, um personagem criado para suportar a sua própria existência; um grito de socorro.

Especificamente nos relatos da condução do Caso Marilyn Monroe pelo seu último analista, Dr. Ralph Greenson, foi possível identificar que o mesmo se sentia envaidecido com a transferência da paciente, por ser “objeto de desejo” da mesma, seja eroticamente, seja fraternamente.

A transferência, importante no processo analítico, refere-se às projeções do paciente para o seu analista, podendo ser positiva, com sentimentos de afeto, de admiração, de confiança, ou negativa, quando os sentimentos predominantes são a agressividade e a resistência. Independentemente de positiva ou negativa, estabelece-se um vínculo entre paciente e analista, que garante o processo analítico e a posição simbólica do analista no lugar do “suposto saber”.

Dr. Greenson não trabalhou a transferência de sua paciente na busca da sublimação das questões de Norma Jeane Baker, pois tinha fascinação pela figura mítica da atriz e utilizava o enamoramento de sua paciente como fonte de poder sobre sua vida, influenciando diretamente em suas decisões. Adorava admirá-la e, assim, perpetuou no setting a legião de admiradores de Marilyn Monroe. Dessa forma, não conseguiu emergir no processo analítico Norma Jeane Baker e tampouco reconhecer que Marilyn Monroe era uma personagem criada pela paciente para suportar todo o seu sofrimento.

Cabe ao analista o manejo adequado dessa transferência para traçar um caminho com o paciente para sua independência e sublimação de suas questões. Caso contrário, pode emergir no paciente uma relação de dependência, como aconteceu no caso de Monroe, ou de distanciamento total.

            Freud, na Conferência XXVII, Transferência, alerta para o fato que a relação transferencial pode ser observada quando o paciente passa a se interessar por tudo que se refere ao analista, dando a isso mais importância do que às suas questões, desviando-se, assim, de sua própria patologia. No entanto, cabe ao analista manejar essa transferência de forma que leve o paciente a retornar às suas questões.


(...)após pequeno lapso de tempo, não podemos deixar de constatar que esses pacientes se comportam de maneira muito peculiar com relação a nós. Acreditávamos, para dizer a verdade, que havíamos percebido todos os motivos envolvidos no tratamento, que havíamos colocado em termos racionais, completamente, a situação existente entre nós e os pacientes, de modo que esta pudesse ser visualizada de imediato como se fora uma soma aritmética; (...) algo parece infiltrar-se furtivamente, algo que não foi levado em conta em nossa soma. (...)Constatamos, pois, que o paciente, que deveria não desejar outra coisa senão encontrar uma saída para seus penosos conflitos, desenvolve especial interesse pela pessoa do médico. Tudo o que se relaciona ao médico parece ser mais importante para ele, do que seus próprios assuntos, e parece desviá-lo de sua própria doença. (FREUD, 1915 -1016, p. 440-441)

             É sabido que a relação amistosa entre paciente e analista não é constante no processo analítico, pois no decorrer do tratamento surgem as resistências, que têm como base a transferência de pulsões e afetos do paciente para o analista. Nos fragmentos apresentados do Caso de Marilyn Monroe conduzido por Ralph Greenson, ficou evidenciado que a paciente se enamorou pelo seu analista. Em algumas sessões, manifestava o seu desejo de ser possuída eroticamente e, em outras, de ser reconhecida como a filha, estabelecendo, assim, a relação triangular edípica, o que poderia ter sido trabalhado simbolicamente e positivamente por Dr. Greenson.

No entanto, o manejo inadequado da transferência por Dr. Ralph Greenson com sua paciente fica evidenciado, quando o analista não reconhece que o enamoramento de sua paciente não era dirigido a ele e, sim, parte de um processo analítico.


A transferência aparece, pois, não só como relação de objeto, mas também como relação entre partes do ego, o que implica uma maior ou menor dissociação do paciente no tratamento. Ressaltei a importância de devolver continuamente ao paciente, através da interpretação, as partes do ego colocadas no analista, e de elaborar e retificar, assim, a dissociação. (RACKER, 1986, p. 54)

 

A resposta do Dr. Ralph Greenson ao enamoramento de Marilyn Monroe, utilizando essa transferência como fonte de poder sobre a vida de sua paciente, e a mitificação da paciente evidenciaram a contratransferência, que é a percepção que emerge no analista como resposta às manifestações do paciente e o que essas causam no mesmo.

David E. Zimerman afirma que todo analista tem o direto de ter sentimentos contratransferenciais, como medo, dúvidas, raiva, excitação, tédio, confusão etc., no entanto, é fundamental o reconhecimento desses sentimentos e superá-los, transformando-os em empatia.



Isso é possível desde que tenha capacidade, coragem e honestidade de reconhecê-los, de modo a não permitir que esses sentimentos se transformem em uma contratransferência patológica e, melhor ainda, que possa transformá-los em empatia. Ele pode, sim, envolver-se afetivamente, porém jamais ficar envolvido nas perigosas malhas da contratransferência. (ZIMERMAN, 2004, p.141)

 

Dr. Ralph Greenson ficou tão fascinado com o ícone Marilyn Monroe e envaidecido com os sentimentos transferenciais da paciente, que não conseguiu fazer emergir no setting analítico Norma Jeane Baker, ficando, assim preso à figura mítica e estabelecendo com a paciente uma relação de dependência e co-dependência. Segundo suas próprias palavras, Marilyn Monroe se tornou sua criança, sua dor e sua loucura.

Segundo Freud (1910, p. 150), “(...) a contratransferência (...) surge como resultado da influência do paciente sobre os seus [analista] sentimentos inconscientes.”.  No mesmo texto, Freud alerta sobre a importância de reconhecer a contratransferência e superá-la:


(...)estamos quase inclinados a insistir que ele [analista] reconhecerá a contratransferência, em si mesmo, e a sobrepujará. (...)notamos que nenhum psicanalista avança além do quanto permitem seus próprios complexos e resistências internas; (...)requeremos que ele deva iniciar sua atividade por uma autoanálise e levá-la, de modo contínuo, cada vez mais profundamente, enquanto esteja realizando suas observações sobre seus pacientes (FREUD, 1910, p.150).

 

  A condução do analista deve ser de levar o paciente a reconhecer suas questões e necessidades a serem elaboradas, como por exemplo, o sentimento de constante abandono, a falta de amor-próprio e o uso de um personagem, no caso de Marilyn Monroe, como sintoma de Norma Jeane Baker. Ou seja, fazer emergir o sujeito inconsciente.


Conclusão

Marilyn Monroe, certamente, ainda é uma das celebridades mais biografadas da história. Teorias da conspiração sobre a sua morte são amplamente exploradas em documentários, livros e reportagens, mesmo depois de mais 60 anos de ser encontrada morta em sua casa. Marilyn se suicidou? Marilyn foi assassinada?

Embora esse trabalho não tenha o objetivo de responder à essa pergunta, é importante lembrar que Norma Jeane Baker vivia no limite, desde o seu nascimento. Outra questão levantada pelos biógrafos da atriz é se não teria sido a psicanálise que a “matou”.

A atriz buscou a psicanálise com o objetivo de “se encontrar”. Acreditava que a “cura pela palavra” poderia lhe mostrar o seu “verdadeiro ser”. Passou por quatro psicanalistas nos últimos anos de sua vida: Margaret Hohenberg, Anna Freud (por um breve período, quando esteve em Londres), Marianne Kris e Ralph Greenson, os dois últimos supervisionados por Anna Freud. Ralph Greenson, seu último analista, após a sua morte, escreveu inúmeros artigos sobre o Caso Marilyn, embora nunca tenha a nomeado nos textos.

            A estrela nasceu Norma Jeane e criou Marilyn Monroe. Sempre falava de Marilyn na terceira pessoa, como se fosse uma personagem, ou o próprio sintoma, pois a sua criação estava toda focada na erotização do corpo. Ao se desvelar diante das câmeras como um símbolo sexual, Marilyn Monroe, a personagem/sintoma, passou a existir a partir do desejo sexual do Outro. Ou seja, foi através do sintoma Marilyn Monroe que Norma Jeane sentiu-se viva diante do olhar do Outro.

Marilyn Monroe não tinha uma estrutura masoquista, mas, sim, uma posição masoquista, submetendo-se às condições do amor do Outro, no intuito de estabelecer a sua verdade na fantasia masoquista do Outro. 

Greenson optou em tratá-la como uma adolescente que não havia desenvolvido a autonomia do Eu. Foi assertivo ao identificar o seu masoquismo, mas encontrou dificuldade limitando o seu tratamento nos critérios da “Psicologia do Eu”.

No decorrer do seu processo analítico, Marilyn experimentou com o seu analista a neurose de transferência, ao projetar em Grensson suas neuroses infantis e estabelecer com ele uma relação dúbia, ora colocando-o no lugar do pai, ora no lugar de amante, reproduzindo o conflito edípico. Esse também foi o movimento de Marilyn com os seus três maridos, os quais chamava de “Papai”. Ou seja, repetia as escolhas dos objetos afetivos (amorosos) que experimentou na sua infância, quando mudava constantemente de casa e de objetos de afeto.

Certamente, Greenson não soube trabalhar esse processo, pois não reconheceu o enamoramento da paciente como um processo analítico e, sim, como um encantamento à sua figura. Ao não castrar esse desejo da paciente, estabeleceu-se uma contratransferência patológica.

O analista deveria ter retribuído esse amor, tratando-o como fantasia, deslocando esse sentimento para o inconsciente da paciente, com o objetivo de resgatar à consciência sentimentos ocultos que poderiam ser elaborados e auxiliar no processo de sublimação das suas questões. No entanto, o que Greenson fez foi alimentar cada vez mais esse sentimento, tornando-se indispensável na vida de Marilyn Monroe e estabelecendo uma dependência, repetindo, assim, as suas relações afetivas da infância, sem elaborá-las.

Dr. Ralph Greenson se encantou pelo mito Marilyn Monroe e, com isso, nunca deixou emergir Norma Jeane Baker, apesar dos apelos e sinais de sua paciente. Um desses sinais, certamente, é o tratamento que a paciente dava à Marilyn Monroe, sempre falando na terceira pessoa, como se Norma Jeane Baker estava ali contanto aquela história e usando a personagem para falar de suas próprias dores.

Como a contratransferência está vinculada intimamente à transferência, pois refere-se as reações emocionais inconscientes do analista diante dos afetos do paciente, sejam amorosos ou não, ao responder positivamente ao “enamoramento” de Marilyn Monroe, colocando-se como um admirador do mito, ou seja, do sintoma, Greenson possibilitou que sua paciente continuasse a existir a partir do desejo sexual do Outro pela sua personagem.

Todo esse processo levou Marilyn Monroe a um profundo sofrimento com desejos de não-existir. Quando ingeriu as pílulas na madrugada de 05 de agosto de 1962, aos 36 anos, assim como em todas as outras tentativas de suicídio, o seu desejo foi matar o mito, ou eliminar o sintoma, e fazer emergir, de alguma forma, Norma Jeane Baker.


Referências:

FREUD, S. As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica (1910). In: Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XI. Rio de Janeiro: Imago, 1969.

FREUD, S. Conferência XXII. Transferência (1915 -1916). In: Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XVI. Rio de Janeiro: Imago, 1969.

LESSANA, M-M. Marilyn, retrato de uma estrela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.

MAILER, Norman. Marilyn. Rio de Janeiro: Editora Record, 2013.

MONROE, M., HECHT, B. My Story. Taylor Trade Publishing; Illustrated ed, 1974.

Il MESSAGGERO [FREUD, A.]. L’altra faccia di Marilyn: “Emotivamente instabile e paranoide”. Roma, 2016. Disponível em: www.ilmessaggero.it/pay/edicola/marilyn_emotivamente_instabile_paranoide. Acesso em: 08 de agosto de 2021.

RACHCKER, Heirich. Estudos sobre técnica psicanalítica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

SCHNEIDER, Michel. Marilyn últimas sessões. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2006.

SUMMERS, Anthony. A Deusa. (As vidas secretas de Marilyn Monroe). São Paulo: Editora Best Seller, 1986.

TARABORRELLI, J. Randy. A vida secreta de Marilyn Monroe. São Paulo: Editora Planeta, 2010.

VOLTOLINI, R. Marilyn Monroe por ela mesma. São Paulo: Martin Claret Editores, 1991.

ZIMERMAN, D.E. Manual de técnica psicanalítica uma re-visão. São Paulo: Artmed Editora, 2004.





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